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Cumieira

Há quem defenda que o nome “Cumieira” aparece num documento de 1139, a “Carta de doação e couto da ermida de Santa Comba” dada por D. Afonso Henriques. No entanto, analisado bem o texto original e o sítio a que se refere, “illa cumeira”, significa apenas “aquela cumeada”, e indica exatamente a cumeada do Monte da Gaivosa, que definia o limite ocidental desse Couto e que, ainda hoje, é fronteira entre os concelhos de Vila Real e de Santa Marta de Penaguião. Até porque nas “Inquirições” de 1258, Santa Eulália da Cumieira é dita como a “Freeguisia de Sancta Ouaija d Andufe”. E na “Inquirição da Beira e Além Doiro” feita em 1288 (D. Dinis), é referida como a “Freguesia de Santa Ouaya”. É no arrolamento das igrejas paroquiais taxadas, feito em 1320-1321, mas situando-a na “Terra de Panóias”, que se encontra a referência talvez mais antiga à “Igreja de Santa Ouaia de Comieira”.

No foral de D. Manuel (1519) e no “Titolo Veiga” aparece o nome “Cumieira”, mas apenas quando se diz que «Joham Vaz e Amdre Vaz da Cumieira trazem cinco casaes do mosteiro do Freixo de que pagam em dinheiro oytemta e dous reaes e quatro pretos» (reais pretos). Na “Corografia Portuguesa” (1706), a “Freguesia de Santa Eulália da Cumieira” integrava o “Concelho de Penaguião”, sendo abadia da Mitra de Braga.

A sua Igreja Matriz foi construída no início do século XVIII (na frontaria tem um modilhão, datado de 1727) tendo sido as paredes e a abóbada pintadas por Nicolau Nasoni em 1739; pinturas hoje perdidas, restando apenas na pardieira da porta principal a inscrição que nos prova assim ter acontecido: (“NICOLAO NASONIO SENENSIS PINGEBAT ANNO 1739″). A fachada principal, ladeada por duas pilastras, tem ao centro a porta encimada por um nicho com a imagem da padroeira, Santa Eulália. A torre sineira é dividida em três secções separadas por cornijas. Contém um conjunto de talha dourada barroca, muito rica e sumptuosa. Foi classificada como “imóvel de interesse público”, pelo Decreto 8/1983 de 24 de Janeiro. (…)

A Igreja Paroquial não é o único Imóvel de Interesse Público da Cumieira. Na Adega Cooperativa da Cumieira é possível encontrar outro elemento desta natureza, o Marco granítico n.º 55, da delimitação da Região Demarcada, que caracteriza parte importante de toda a região vinhateira do Alto Douro inscrita na lista de Património Mundial da UNESCO sob a designação genérica de “Alto Douro Vinhateiro”.

(…) Em 1758 o abade da Cumieira, Manoel de S. Jozé Justiniano diz que «pertence a esta freguesia a Provincia de Trás os Montes por ser nella situada, hé do Arcebispado de Braga Primaz das Hespanhas, chama-se do Comieira, hé da Comarca de Villa Real, na jurisdição e- cleziastica e no secular do concelho de Pennaguiam (…) Tem esta freguesia duzentos e oito vezinhos, entre os quaes são maiores setecentos e quinze e menores sincoenta e cino…».

Parte da área da freguesia da Cumieira foi incluída nas “Demarcações Pombalinas”, feitas no concelho de Penaguião em Outubro de 1758: «E do dito marco se continua ainda a seguir pela mesma estrada, e vay dar ao Cruzeyro do Lugar do Assento; cujo Lugar he da freguesia da Cumieyra». Na “Devassa” de 1771/1775, os inquiridos e infratores residentes na freguesia, delatores e culpados de introduzirem “vinho de ramo” na zona da demarcação do “vinho de embarque”, ultrapassaram, de longe, a centena. E nas Demarcações Subsidiárias do tempo de D. Maria I (1788/1790), mais de duzentos dos seus vinhedos foram considerados como aptos a produzirem vinho de feitoria daí em diante.

Em 1828, «vamos encontrar, no termo de Santa Marta, bem longe dos bastiões liberais de Cima Corgo, a povoação da Cumieira, onde há muito se manifestava um ativo núcleo constitucional, que se saldou em 61 réus processados na devassa da rebelião», ordenada por D. Miguel quando então assumiu o trono como rei absoluto.

Nasceram na Cumieira o Marechal António Teixeira Rebelo (1750-1825), fundador do Colégio Militar e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra em 1821, no reinado de D. João VI; e Frei Manuel Rebelo da Silva (1767-1849), sócio correspondente da Academia de Ciências, que ficou conhecido por ser perito em línguas orientais, sobretudo o hebraico e o árabe.

Texto gentilmente cedido por Dr. Artur Vaz

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